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sexta-feira, 28 de março de 2025

 

2. Modinhas e Lundus: Domingos Caldas Barbosa


Onde estávamos?


Ah, sim, no início.


Logicamente a história da música popular brasileira deveria ter início ao primeiro assobio de um marujo português ao desembarcar nestes trópicos. Mas a documentação destes fatos acaba por limitar o horizonte temporal.


Assim, inicia-se a história de uma música popular brasileira com a figura de Domingos Caldas Barbosa (1740 – 1800). Nascido no Brasil, viveu a partir de seus 22 anos em Portugal.

Domingos Caldas Barbosa.jpeg


E cabe aqui apontar, logo de cara, uma aparente contradição. Comentei no texto anterior que iria me ater à história da música instrumental brasileira, e inicio com o nome de um poeta. De fato, nenhuma melodia de Caldas Barbosa chegou a nossos dias, somente seus poemas.


As principais “letras” de Caldas Barbosa foram reunidas e publicadas em uma obra intitulada Viola de Lereno.

Viola de Lereno.jpeg

Há referências ao poeta cantando modinhas e lundus para a corte de D. Maria I, se acompanhando à Viola de Arame. Também há notícias de que tenha musicado boa parte de seus poemas, mas tal qual o assobio do marujo português, restam soterradas pela areia do tempo suas notas musicais (essa foi dura…).

Desse material, 4 modinhas foram musicadas pelo músico português Marcos Portugal. 

Uma das Modinhas musicadas por Marcos Portugal é “Você trata amor em brinco”. Creio que fala de alguém que brinca com os sentimentos de outra pessoa.


Acho a letra “bem-comportada” e a música “bem acadêmica”, sem exibir características de brasilidade.


Resta a peculiaridade de ser uma música feita por um português residente no Brasil, com letra de um brasileiro residente em Portugal. Segue o arranjo para a nossa atual formação orquestral:





Você trata amor em brinco,
Amor a fará chorar.
Veja lá com quem se mete,
Que não é para brincar,
Ai! Amor! Amor! Amor!
Vocês zombam com Amor
E não é para zombar.
Amor vem manso, mansinho,
No coração habitar
E depois de estar de dentro,
Quer só ele as regras dar.
Ai! Amor! Amor! Amor!
Vocês zombam com Amor
E não é para zombar.


Encontrei outra modinha “atribuída” a Domingos Caldas Barbosa. Chama-se Se fores ao fim do mundo”.


Segue o arranjo:



Se fores ao fim do mundo
Lá mesmo te hei de buscar
Lá mesmo te hei de buscar
Em qualquer parte que estejas
Eu sem ti não posso estar
Eu sem ti não posso estar
Eu sem ti não posso estar
Eu sem ti não posso estar


Novamente música e letra "bem comportadas”, acadêmicas. O povo escutava, ideias fermentavam…

A propósito, da próxima vez, falo um pouco a respeito do lundu.

segunda-feira, 24 de março de 2025

 

1. Um projeto de estudo para 2025: história da música popular brasileira.

Bom, provocado a colocar em texto (quase ia escrevendo colocar no papel…) algumas das ideias que expressei em encontro recente de nosso curso de Regência Orquestral, dou início a uma conversa informal sobre o que ando pesquisando e estudando a respeito de um assunto tão amplo e instigante como a história da música popular brasileira.


O impulso inicial para este estudo veio de uma troca de mensagens de fim de ano com o maestro Angelino Bozzini. Pelo que lembro, ele expressou na ocasião o desejo de desenvolver um material didático que pudesse identificar a origem e o desenvolvimento de certas características de nossa música, principalmente no uso de contracantos que enriquecem nossos arranjos musicais.


Passados os dias dedicados a Baco, comecei a dar asas ao pensamento.


Primeira tarefa para o planejamento da viagem foi adquirir um guia. Após rápida pesquisa, optei pelo livro Uma história da música popular brasileira, de Jairo Severiano, editora 34, SP, 5ª edição.


A obra de Severiano (1927-2022) abrange nossa música popular desde sua formação até os dias atuais. O volume de informação e referências é extremamente grande: como um guia, permite que se façam outras pesquisas com o objetivo de aclarar ou aprofundar certos assuntos mais intimamente ligados ao objetivo do projeto; por outro lado impõe que se estabeleçam limites para a abrangência do estudo.


Cabe aqui, portanto, uma declaração de propósito: vou me ater à história da música popular instrumental brasileira e tendo como limite temporal o início da era do rádio, com a consolidação do choro, personificado em Alfredo da Rocha Viana, o Pixinguinha.
Voltando ao guia, tal declaração de propósito significa que irei me concentrar nos 18 capítulos iniciais do livro que consta de 55 capítulos.


Neste processo, irei buscando referências musicais que exemplifiquem cada gênero/autor mencionado, coletando e desenvolvendo arranjos que estruturem um repertório a ser apresentado ao longo do ano de 2025. Haja fôlego!


É isso.


Ricardo Dias