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terça-feira, 8 de abril de 2025

 

4. A primeira metade do século XIX


No título do capítulo "A família real, o piano e as danças de salão", Jairo Severiano resume magistralmente as forças transformadoras do nosso ambiente musical no século XIX.

"A vinda da corte (desembarque no Rio de Janeiro em 7 de março de 1808) provocou no Brasil um surto de civilização e desenvolvimento, representado por iniciativas como a criação da Academia de Belas Artes, da Biblioteca Pública, do Banco do Brasil, do Jardim Botânico e, no âmbito da música, a introdução do piano, da valsa e de outras novidades europeias".

Mas antes de me debruçar sobre estas novidades, creio ser relevante terminar nosso assunto anterior, qual seja, modinhas e lundus.

Na começo do século XIX dois "modinheiros" se destacam: Joaquim Manoel da Câmara e Cândido Inácio da Silva.

Joaquim Manoel, como era conhecido, exibiu raro talento ao violão. Não possuía, entretanto, qualquer formação musical. Seu legado musical deve-se ao músico austríaco Sigsmund Neukomm, que harmonizou vinte de suas modinhas.

Segue abaixo, arranjada para flauta e violão,  a modinha Triste Salgueiro de Joaquim Manoel da Câmara:



Triste Salgueiro,

Rama inclinada,

Folhagem pálida,

Sombra magoada,

Aceite o nome,

O nome da minha namorada,

O nome da minha namorada.


Cândido Inácio da Silva, por sua vez, foi considerado por Mário de Andrade "salvas as proporções, o Schubert de nossas modinhas de salão". Violonista, é tido como o maior autor de modinhas da primeira metade do século XIX.

Duas de suas mais famosas modinhas foram publicadas por Mário de Andrade em "Modinhas Imperiais": Busco a campina serena e Quando as glórias eu gosei.

Segue um arranjo da primeira, para nossa formação orquestral.




Busco a campina serena

Para livre suspirar

Busco a campina serena

Para livre suspirar


Cresce o mal que me atormenta

Aumenta-se o meu penar

Cresce o mal que me atormenta

Aumenta-se o meu penar


Si ao brando rio procuro

As minhas penas contar

O rio foge de ouvir-me

Aumenta-se o meu penar


Si ao terno canto de uma ave

Vou meus gemidos juntar,

Emudece o passarinho

Aumenta-se o meu penar.

Sobre esta modinha, reproduzo abaixo o que escreveu Mario de Andrade:

"Esta Modinha que é um primor de Graça perfeitíssima, foi publicada sob a.®14, na “Coleção de Modinhas Brasileiras e Portuguesas" de Filippone e Tornaghi, donde a transcrevo. Os versos não trazem nome de autor mas ainda são de bom lirismo árcade. A música é de Cândido Inácio da Silva.

Este músico, totalmente ignorado por nós, me parece estar entre as figuras mais dignas de pesquiza, da composição nacional. Porquê si não teve a audácia de se manifestar em obras musicais vultuosas, que eu saiba, nem óperas, nem missas, nem sinfonias, foi incontestavelmente um trovador da melhor inspiração. As duas Modinhas dele que transcrevo aqui, são canções admiráveis pela beleza e sentimento de linha melódica".


As modinhas foram a grande expressão romântica de nossa música a longo de todo o século XIX e seu processo de "democratização" acentuou-se no final do século. Essa popularização deve-se à progressiva troca de seu acompanhamento pianístico pelo violonístico, à adoção do ritmo ternário  e à sua simplificação formal. 

No início do século XX, entretanto, a valsa com letra começou a se popularizar no Brasil e passou a ocupar o espaço da modinha como expressão maior da canção de amor.

É isso. 

Prometi e não cumpri falar também dos lundus. 

Perdão, fica para o próximo post.




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