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sábado, 26 de julho de 2025

 Passarim

Seguindo a ordem alfabética, esta é a ultima peça do repertório selecionado.

Como já abordado quando falei da Abertura, Passarim também faz parte de uma trilha sonora. No caso, para a minissérie O Tempo e o Vento, baseada na obra de Érico Veríssimo.

A composição constitui-se em perfeito exemplo da fase "ecológica" de Jobim. Sobre a letra da música, também de Jobim, encontrei esta breve análise que reproduzo parcialmente abaixo:

A canção 'Passarim' de Tom Jobim é uma obra que reflete sobre a melancolia, a perda e a busca incessante pela felicidadeA letra utiliza a metáfora de um pássaro que tenta pousar, mas é constantemente impedido, seja por tiros que o ferem ou por outros obstáculos que o fazem continuar voando.

A composição foi registrada fonograficamente em 1985 no LP O Tempo e o Vento, com a participação de Danilo Caymmi e coro.

Entretanto, o arranjo no formato proposto para nossa formação aparece no álbum Passarim, lançado em 1987 pela gravadora Polygran Discos.

Acompanham o compositor os vocais de Ana Lontra Jobim, Elizabeth Jobim, Maucha Adnet, Paula Morelenbaum, Paulo Jobim e Simone Caymmi.



https://open.spotify.com/intl-pt/track/2ILOybKqfaoqpqhRXRrnfN?si=f63e0bc9a9c14a3d

Encerro esta série de posts esperando haver disseminado o vírus de minha febre jobiniana. Não tenho vontade de me curar...

Agradeço sinceramente a atenção.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Olha Maria 

Vivendo e aprendendo. 

Não sabia que Olha Maria tinha "nascido" com outro nome. Pois bem, a informação consta do livro A Harmonia de Tom Jobim, de Carlos Almada, já citado previamente: 

Originalmente instrumental e intitulada Amparo, a canção que seria depois renomeada como Olha Maria foi composta em 1969 como parte da trilha sonora do filme The Adventurers, de Lewis Gilbert.

De fato, investigação adicional chegou à evidência material: LP lançado em 1970 pela Paramount Records. Sob o nome de "Dax & Amparo (Love Theme)" encontra-se a futura Olha Maria. Compartilha o berço outra composição famosa de Jobim, Chovendo na Roseira, aqui ainda batizada de Children's Game. Os arranjos e regência são de Eumir Deodato.


Na mais pura tradição de Catulo da Paixão Cearense, "Dax & Amparo (Love Theme)" foi rebatizada após receber letra em português, concebida por Vinícius de Moraes e Chico Buarque.

O primeiro registro fonográfico da agora Olha Maria aparece no LP  Construção, de Chico Buarque (1971).


Já se ouve neste álbum o arranjo que serviu de base para a orquestração que iremos executar. É muito interessante notar a diferença entre os arranjos, que diferenciam um "love theme" de um pungente testemunho do fim de uma relação amorosa.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

 Gabriela

De maio a outubro de 1975, a TV Globo exibiu a telenovela Gabriela, adaptação do romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado.


A novela, grande sucesso de audiência, contava com Sônia Braga e Armando Bógus  como principais protagonistas. A música tema, Modinha para Gabriela, de autoria de Dorival Caymmi,  tornou-se muito popular na interpretação de Gal Costa. Abaixo, imagem do LP lançado pela Som Livre com a trilha sonora da produção.


O sucesso da novela, a sensualidade da trama, e a popularidade de Sônia Braga estimulariam a adaptação, desta vez para um filme, de outra obra literária de Jorge Amado: Dona Flor e Seus Dois Maridos. A produção de 1976, dirigida por Bruno Barreto, que assina o roteiro adaptado, contava ainda com trilha sonora de Chico Buarque e Francis Hime, da qual se destaca a composição O que será, interpretada por Simone (sobre isso não falarei mais, tendo em vista o alto risco de contágio...).

A aposta deu certo: com mais de 10 milhões de expectadores, o filme manteve-se por 34 anos como recordista de público do cinema brasileiro até ser suplantado em 2010 por Tropa de Elite (o que, para mim, ajuda a explicar os rumos de nosso país).

Cito toda essa história, com todas as referências para explicar que, em 1983, o cinema brasileiro dobrou a aposta: contando mais uma vez com a agora consagrada Sônia Braga, o diretor Bruno Barreto adapta o roteiro e dirige o filme Gabriela. A presença do astro Marcello Mastroianni no papel de Seu Nacib, par romântico de Gabriela, é claro indicador das ambições internacionais da produção.


Aqui chegamos finalmente ao ponto. Coube a Tom Jobim a trilha sonora do filme Gabriela. A gravação, pela RCA Records contou com a participação de Gal Costa e arranjos e regência de Oscar Castro Neves:


Eis as faixas da trilha sonora:

Chegada dos Retirantes

Tema de Amor de Gabriela

Pulando Carniça

Pensando na Vida

Casório

Origens

Ataque dos Jagunços

Caminho da Mata

Ilhéus

Tema de Amor de Gabriela (versão completa) 

Em 1987, contudo, Tom Jobim rearranja os temas acima e os registra no disco Passarim (Verve Records). Este arranjo é o que serviu de base para a orquestração que vamos tocar.


No arranjo, Jobim, além de apresentar os temas principais da trilha sonora de Gabriela, acrescenta outros temas, como Boto, Berimbau, e Na Corda da Viola, resultando no que avalio ser uma declaração de amor ao Brasil.



terça-feira, 22 de julho de 2025

 Falando de Amor

Falando de Amor é uma composição de 1978, com letra e música do próprio Tom.

A composição foi iniciada no Hotel Adams em Nova Iorque, onde Jobim passava lua de mel com sua segunda esposa, Ana Lontra Jobim. A informação consta de artigo no site Lyrical Brazil, baseado no livro Tom Jobim: Histórias de Canções de Wagner Homem e Luiz Roberto Oliveira.



Falando de Amor consta do álbum Miúcha 7 Tom Jobim vol. 2, de 30 de novembro de 1978.


É efetivamente uma declaração de amor e um pedido de correspondência. Um choro-canção em modo menor em forma A-B-A, conforme destacado por Carlos Almada (A Harmonia de Jobim) calcado "em uma espinha dorsal de sonoridades diminutas".

Há uma gravação do próprio Tom com arranjo muito próximo ao que vamos tocar.

https://open.spotify.com/track/3iIqvbmF2kVgRf8C9xdrKS?si=oEajTwVnTpaeInJuit_CfA

domingo, 20 de julho de 2025

Derradeira Primavera

Chegamos então à decana de nosso repertório. Derradeira Primavera foi composta em 1962 e é fruto da parceria de Tom Jobim com Vinícius de Moraes. Excelente oportunidade para comentar um pouquinho sobre esse feliz encontro para a música popular brasileira.

Tom e Vinícius foram apresentados por um amigo comum, Lúcio Rangel, em 1956. Na ocasião, Vinícius estava envolvido com a montagem de sua peça teatral Orfeu da Conceição, que havia escrito em 1954. Coube a Tom Jobim a trilha sonora, que foi gravada em 1956, em "alta-fidelidade" pela Odeon.

A capa, linda e atual, é o que é: um porta-jóias. Merece um merchandising: o álbum encontra-se disponível no Spotify, com as seguintes faixas:
  1. Ouverture (peça orquestral)*
  2. Monólogo de Orfeu (sobre a Valsa de Eurídice)
  3. Um nome de mulher 
  4. Se todos fossem iguais a você 
  5. Mulher, sempre mulher 
  6. Eu e o meu amor
  7. Lamento no morro 

*inevitável pensar em Villa-Lobos...

Bom, a partir deste início fulgurante, a parceria e a amizade Tom-Vinícius permaneceu fecunda, constituindo-se em uma das pedras fundamentais da Bossa Nova, com composições como Garota de Ipanema, Corcovado, Samba do Avião, Ela é Carioca, Insensatez, e Eu sei que vou te amar. Talvez sejam essas as composições que mais imediatamente vêm à memória quando falamos de Tom Jobim.

Mas, foco, cidadão, o assunto é Derradeira Primavera. 

Após uma introdução, digamos, alegre e ensolarada de 8 compassos alicerçada em acordes de Dó Maior com sétima maior e Ré menor com sétima, o clima se transforma, e uma atmosfera de melancolia se instala. Estamos diante do término de um relacionamento, de um lamento profundo pela perda. Letra e música unidas para a expressão de sentimento profundo de tristeza. Pungente.

Com vocês, mais uma vez, Nana Caymmi. O arranjo, conduzido por Mário Adnet é muito próximo ao que iremos executar.

https://youtu.be/nkapOU-Cu7g

CQD


 

sábado, 19 de julho de 2025

Chora Coração

Continuando em ordem alfabética, Chora Coração é também uma composição integrante de uma trilha sonora. Neste caso, de um filme: A Casa Assassinada, dirigido por Paulo Cesar Saraceni em 1971. 

O roteiro do filme é uma adaptação do livro Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso.


Sobre Chora Coração e toda a trilha sonora de A Casa Assassinada encontrei um artigo maravilhoso de autoria de Ney Costa Santos, coordenador do curso de cinema da PUC/Rio. 

Destaco alguns trechos, o que não dispensa a leitura do texto integral:

Para expressar a intensidade emocional do romance e de sua adaptação para o cinema, Tom Jobim trabalhou as variações de uma melodia que tem um lirismo bem brasileiro, talvez hoje perdido, mas que bem expressa o pathos emocional que atravessa o livro e o filme. Tom partiu do tema do schottisch Iara, um tipo de polca mais lenta e dançante, composta pelo maestro Anacleto de Medeiros. Anacleto foi um notável músico popular brasileiro, compositor de valsas, choros, polcas e peças sinfônicas para a banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, organizada e dirigida por ele. A música foi composta para homenagear a guarnição do barco Iara, vencedor de uma prova na regata de São Roque, em Paquetá, em 15 de novembro de 1896. Anos depois a melodia ganhou uma letra gongórica e ultrarromântica de Catulo da Paixão Cearense, foi gravada por vários cantores na primeira metade do século passado e ficou conhecida como Rasga Coração. 

Anos mais tarde, Heitor Villa Lobos utilizou o tema principal de Iara/Rasga Coração para costurar a exuberante orquestração do Choro nº 10 para orquestra e coro. É intensamente belo o resultado sonoro obtido com a melodia singela de Anacleto, passeando entre as massas sonoras e o ritmo pulsante. Mais uma vez, Villa Lobos revela sua capacidade de representar algo intraduzível em palavras, algo que poderíamos chamar de alma do Brasil profundo, ou aquilo que o pesquisador Irineu Guerrini Junior chamou de “alegoria sonora da Pátria”, comentando o uso da música de Villa nos filmes do Cinema Novo.

Na Casa Assassinada, Tom Jobim partiu do tema de Anacleto e trabalhou variações e desenvolvimentos. A música é logo apresentada nos créditos iniciais do filme, porém em uma versão diferente daquela que, em 1973, com letra de Vinicius de Morais, Tom Jobim gravou nos Estados Unidos, mantendo a fidelidade emocional ao texto de Lucio Cardoso e ao filme de Saraceni. 

A música escrita por Tom Jobim para a Casa Assassinada vai além da funcionalidade da música para cinema. O tema principal é muito mais que o comentário de cenas ou personagens. É um milagre, como o canteiro de violetas entre a fogueira das paixões que consomem a casa e os personagens e a delicadeza do perfume das flores no jardim abandonado.

Resta pouco a acrescentar. A suíte Casa Abandonada consta de quatro composições: Trem para Cordisburgo, Chora Coração, Milagre e Palhaços, e Jardim Abandonado. Foi registrada no LP Matita Perê, de 1972, com arranjo de Claus Ogerman.


Um último comentário: é imediata a associação de Trem para Cordisburgo com o Trenzinho do Caipira de Villa-Lobos.




 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Chanson pour Michelle 


A trilha sonora da série de TV "O Tempo e o Vento" foi lançada em LP (lembram?) em 1985 e em CD em 2003.

No LP constam seis temas de Jobim, concebidos para a série: Passarim (com sua maravilhosa Abertura); Chanson pour Michelle; Rodrigo, Meu Capitão; Um certo Capitão Rodrigo; Bangzália; e Senhora Dona Bibiana.

Destes temas, dois são instrumentais: Bangzália e Chanson pour Michelle.

As demais composições tem letra atribuída ao próprio Tom (que era um grande letrista) e a Ronaldo Bastos, que assina Rodrigo, Meu Capitão e Senhora Dona Bibiana.

Chanson pour Michelle é uma canção de amor extremamente sedutora. Confesso que não consegui relacioná-la diretamente ao enredo de Érico Veríssimo. Mas incorporei-a ao meu enredo. E graças a este post e às pesquisas a ele relacionadas, fiz uma feliz descoberta ontem: a letra de Chanson pour Michelle, de autoria de Ronaldo Bastos, que transcrevi a partir da magistral interpretação de Nana Caymmi, constante do CD Falando de Amor, lançado em 2005.




Se puderem escutar, recomendo enfaticamente.

Eis a letra de Chanson pour Michelle (agradeço a ajuda de ma reine Valerie):

Tiens, ma belle

A canção que agora tens, Michelle,

Reconheço que eu roubei de ti

Só confesso porque tanto faz

Esconder

O que é

Bem mais claro do que a luz do céu

De Paris,

Viens, ma reine,

Toma o que é teu


Mil perdões

Se não deu pra te fazer feliz


O que é

Indizível mas se quer dizer

As canções

Têm o dom

De poder em rimas traduzir

Então mirar além da rima

Arriscar a ser preciso

Apostar que é possível

Remover montanhas


Cette chanson qui prends ton nom

Ma belle

Reconheço que eu roubei de ti

Aprendi a te chamar assim

E quem sabe um dia vens pra mim


Viens, Michelle,

Toma o que é só teu

De mais ninguém


Só teu de mais ninguém

Só teu de mais ninguém

Só teu de mais ninguém



Que coisa bonita.